Caras Colegas, e professora Teresa,
O debate em torno do E-Research "permanece em constante evolução", refletindo as profundas transformações que a digitalização trouxe à produção do conhecimento científico. A investigação académica, ao longo da história, tem sido moldada pelos avanços tecnológicos e, neste contexto, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) assumem um papel central na redefinição das metodologias científicas (Anderson & Kanuka, 2003). No entanto, mais do que uma mera digitalização de processos tradicionais, o E-Research representa uma mudança estrutural que desafia as práticas convencionais de recolha, análise e disseminação de dados (Zawacki-Richter & Anderson, 2014).
Deste modo, concordo que a questão da adequação metodológica se revela fulcral. Nem todas as áreas do conhecimento beneficiam de igual forma da digitalização, exigindo uma análise cuidadosa sobre a aplicabilidade e as limitações das novas abordagens digitais. O risco de uma adoção acrítica das ferramentas tecnológicas é real e pode comprometer a validade dos estudos, especialmente se não forem considerados fatores como a qualidade dos dados, a representatividade das amostras ou os vieses algorítmicos presentes na análise automatizada (Creswell & Creswell, 2018).
A par destas questões, a investigação científica enfrenta desafios éticos incontornáveis. A recolha e tratamento de dados em ambientes digitais levanta preocupações relativamente à privacidade dos participantes, à proteção de dados pessoais e à transparência no uso das informações recolhidas. Pereira et al. (2021) sublinham a importância de práticas éticas rigorosas, nomeadamente no que concerne ao consentimento informado digital e à anonimização dos dados. Além disso, a crescente automatização dos processos analíticos exige uma vigilância constante sobre o enviesamento algorítmico e a fiabilidade das fontes de informação utilizadas.
O Papel da Ciência Aberta no Contexto do E-Research
Outro aspeto relevante prende-se com a relação entre E-Research e o movimento da Ciência Aberta, que tem vindo a ganhar destaque nas últimas décadas. A defesa do acesso livre a publicações científicas, a partilha de dados abertos e a promoção de metodologias colaborativas são elementos fundamentais para a democratização do conhecimento (Jhangiani & Biswas-Diener, 2017). Contudo, esta mudança de paradigma não está isenta de desafios. Como referem Cardoso e Pestana (2018), a acessibilidade dos dados e dos recursos científicos deve ser acompanhada por uma reflexão crítica sobre a sua fiabilidade e sobre os critérios de avaliação da produção académica.
No domínio das Humanidades Digitais, por exemplo, a utilização de bases de dados abertas e a aplicação de métodos computacionais à análise textual têm proporcionado avanços significativos. No entanto, a interpretação dos resultados continua a exigir um olhar crítico e contextualizado, sob pena de se reduzirem fenómenos culturais complexos a simples padrões quantitativos (Tuckman, 2012). Assim, a par da introdução de novas metodologias, é fundamental que os investigadores desenvolvam competências que lhes permitam integrar eficazmente os métodos digitais nas suas análises, sem descurar a profundidade conceptual das suas abordagens.
E-Research e o Futuro da Investigação Científica
O E-Research abre portas a novas formas de colaboração científica, permitindo que investigadores de diferentes geografias trabalhem em conjunto, partilhando recursos e metodologias através de plataformas digitais (Weller, 2020). Esta realidade é particularmente relevante no contexto da investigação interdisciplinar, onde a partilha de dados e a integração de perspetivas diversas podem enriquecer significativamente os resultados obtidos.
Contudo, como apontam Ribeiro (2018) e Creswell e Creswell (2018), a crescente digitalização da investigação exige um compromisso contínuo com a fiabilidade dos estudos e com o rigor metodológico. A validação dos dados, a replicabilidade dos estudos e a transparência dos processos analíticos devem ser princípios orientadores fundamentais para garantir a credibilidade do conhecimento produzido em contextos digitais.
No plano da formação académica, este debate reforça a necessidade de dotar os investigadores das competências necessárias para lidarem com os desafios do E-Research. Como sublinham Anderson e Kanuka (2003), a transição para a investigação digital não implica apenas o domínio de ferramentas tecnológicas, mas exige uma compreensão aprofundada das implicações epistemológicas e metodológicas associadas a este novo paradigma.
Conclusão
O debate sobre o E-Research não se esgota na identificação das suas potencialidades, mas requer um exame crítico dos desafios que lhe estão associados. A adequação metodológica, a ética na investigação digital e a construção de diretrizes rigorosas para a fiabilidade dos estudos são aspetos fundamentais neste contexto. A rápida evolução das tecnologias coloca-nos perante um cenário dinâmico, onde a inovação metodológica deve caminhar lado a lado com a reflexão crítica e a responsabilidade científica.
Deste modo, acredito que, ao longo deste percurso académico, teremos a oportunidade de aprofundar estas discussões, contribuindo para a construção de um modelo de investigação mais robusto, transparente e eticamente responsável. Agradeço a todas as colegas pelas suas reflexões, que enriquecem significativamente esta troca de ideias.
Referências Bibliográficas
Anderson, T., & Kanuka, H. (2003). E-Research: Methods, Strategies, and Issues. Pearson Education.
Cardoso, T., & Pestana, F. (2018). O programa WEIWER® como nova alfabetização: casos à Luz de uma tipologia de Práticas Educacionais Abertas. Editora Artemis.
Coutinho, C. P. (2018). Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas - Teoria e Prática. Coimbra: Editora Almedina.
Creswell, J. W., & Creswell, J. D. (2018). Research design: qualitative, quantitative, and mixed methods approaches (5.ª ed.). Los Angeles: SAGE.
Jhangiani, R. S., & Biswas-Diener, R. (2017). Open. London: Ubiquity Press. DOI: https://doi.org/10.5334/bbc.
Pereira, A., Cardoso, T., Monteiro, V. C., & Pombo, C. (2021). Observação e Design-Based-Research em contextos online. Disponível em.
Ribeiro, G. M. (2018). Novo Manual de Investigação: do rigor à originalidade, como fazer uma tese no século XXI. Lisboa: Editora Contraponto.
Tuckman, B. W. (2012). Manual de Investigação em Educação (4.ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Weller, M. (2020). 25 Years of Ed Tech. Athabasca: AUP.
Zawacki-Richter, O., & Anderson, T. (2014). Online distance education: Towards a research agenda. Athabasca: AUP.
Com os melhores cumprimentos,
Maria de Sousa Videia