Autenticidade e Transparência na Rede
A Autenticidade no Mundo Pós-Digital: Reflexões a Partir de Salvador Dalí
A Confusão de Valores no Mundo Pós-Digital
As interações sociais na rede não são mais feitas de encontros físicos e confrontos diretos; elas acontecem numa esfera digital onde as identidades podem ser cuidadosamente manipuladas, ajustadas e até mesmo reescritas. Nesse cenário, a verdadeira autenticidade parece estar em constante fuga. O que vemos online é uma versão cuidadosamente curada, onde o que aparece pode não ser mais do que um reflexo distorcido da realidade. Afinal, quem é Dalí, se não a sua imagem, o seu legado, as suas ideias que são transmitidas e reinterpretadas em diferentes plataformas digitais?
A Questão da Transparência e da Autenticidade da Informação
Se as identidades digitais estão, muitas vezes, longe de serem transparentes, o que dizer da informação que circula na rede? Num mundo onde a desinformação e as fake New se espalham com facilidade, como podemos garantir a autenticidade da informação que consumimos? Será a transparência dos processos de partilha suficiente para validar o conteúdo? Quem valida a veracidade da informação num ambiente tão fluido e dinâmico como o digital?
Tal como as versões digitais de figuras públicas, a informação na internet é moldada por quem a produz e partilha. E, na maioria das vezes, a veracidade dessas informações depende de quem as valida. A confiança na comunidade digital, ou em plataformas centralizadas, torna-se um fator crucial. No entanto, em um ambiente onde todos têm acesso às mesmas ferramentas de criação e manipulação, como podemos saber em quem confiar? Como assegurar que a informação que circula seja não apenas verdadeira, mas também usada de forma ética e responsável?
O Desafio da Autenticidade no Mundo Digital
O conceito de autenticidade nunca foi tão desafiante quanto no mundo pós-digital. As imagens, as mensagens e até as interações podem ser fabricadas, manipuladas e distorcidas, fazendo com que a linha entre o que é real e o que é digital se torne cada vez mais fina. A versão digital de Dalí, por exemplo, oferece uma representação da sua personalidade, mas será ela mais autêntica do que a imagem que temos dele através da sua arte, das suas entrevistas e das suas ações no mundo físico? A autenticidade no mundo digital não se baseia apenas em provas tangíveis da existência de algo, mas na confiança que depositamos naquilo que vemos e ouvimos.
A pergunta fundamental que se impõe é: qual é, então, a verdade? Se as identidades e as informações podem ser manipuladas à vontade, como podemos garantir que aquilo que vemos na rede seja um reflexo fiel da realidade? Ou será que, em um mundo onde as versões digitais de nós mesmos e da realidade se sobrepõem, devemos repensar a própria ideia de autenticidade?
Conclusão
A reflexão sobre a autenticidade no mundo pós-digital vai muito além das figuras icónicas, como Salvador Dalí, ou da simples questão de tentar descobrir quem está realmente por trás de uma imagem digital. Ela desafia-nos a repensar as nossas próprias identidades na rede, a avaliar de forma crítica a confiança que depositamos nas informações que recebemos, e a questionar a natureza das relações e interações que estabelecemos no mundo digital. Este contexto, onde praticamente tudo pode ser manipulado, nos leva a refletir sobre o que significa, de facto, ser autêntico.
Num ambiente em que as imagens e as narrativas podem ser facilmente alteradas, a autenticidade deixa de ser algo óbvio ou inquestionável. A nossa presença digital muitas vezes não corresponde à realidade completa de quem somos; ela é construída, filtrada e apresentada de forma a adequar-se a determinadas normas sociais ou expectativas. No entanto, a verdadeira autenticidade pode não estar tanto no que é exibido ou naquilo que é manipulado, mas na nossa capacidade de discernir a verdade, de compreender o que está por detrás da máscara digital e de procurar sempre, de maneira consciente, uma conexão genuína.
Essa conexão, cada vez mais importante, não precisa ser física. Ela pode ser digital, mas precisa ser pautada pela transparência, pela honestidade e pelo esforço de manter uma comunicação autêntica, mesmo em um espaço virtual onde as identidades podem ser facilmente distorcidas. Assim, a autenticidade no mundo pós-digital parece depender da nossa capacidade de manter a nossa humanidade, mesmo quando interagimos com representações digitais ou com realidades construídas por algoritmos.
Portanto, em um cenário em que tudo parece manipulado, a verdadeira autenticidade pode estar na nossa capacidade de buscar e manter conexões reais, mesmo que estas ocorram no mundo digital. Cabe a nós ser os guardiões da verdade, da transparência e da honestidade, tanto nas nossas interações virtuais quanto nas físicas, procurando sempre perceber além da superfície e promover uma relação mais profunda e genuína com o outro.
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