quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

@tividade 2-CIBERCULTURA

"No dilúvio informativo que ameaça fazer desaparecer a sociedade contemporânea, estará reservada à responsabilidade individual, nascida da nossa liberdade enquanto cidadãos, o papel da nova Arca de Noé? Será que a responsabilidade individual ou a grupal possibilitarão a filtragem preservadora daquilo que constitui o património cultural essencial da sociedade humana?
A atividade que vos propomos é a de analisarem o texto referenciado de Pierre Lévy [Cibercultura, originalmente publicado em 1997, e, entre 14 e 17 de novembro, apresentarem nos vossos blogs individuais um comentário sobre a noção de cibercultura, tal como defendida por Lévy e interpretada por vocês à luz da evolução dos últimos 25 anos, que inclua a indicação de três exemplos significativos. Deverão indicar no fórum de apoio abaixo, especialmente criado para este tema, os links para os vossos blog posts."



CIBERCULTURA-

Pierre Lévy, na sua obra Cibercultura (1997), apresenta uma visão inovadora sobre os impactos das tecnologias digitais na sociedade, propondo que a cibercultura é o resultado da convergência entre as tecnologias da informação e as práticas culturais emergentes. Para Lévy, esta nova cultura caracteriza-se pela interconexão, inteligência coletiva e virtualização, que transformam profundamente a forma como as pessoas comunicam, aprendem e produzem conhecimento.

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Noção de Cibercultura e sua Relevância Atual


A noção de cibercultura defendida por Lévy enfatiza a ideia de uma sociedade interconectada, onde as tecnologias digitais promovem uma inteligência coletiva. Esta inteligência não reside apenas nos indivíduos, mas na partilha de conhecimentos que acontece de forma dinâmica e colaborativa em rede. Para Lévy, a virtualização não implica uma alienação, mas sim a transformação de processos e estruturas físicas em sistemas simbólicos e interativos.

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Passados 25 anos, a visão de Lévy permanece surpreendentemente atual, especialmente à luz de três fenómenos significativos:





Redes Sociais e o Impacto na Comunicação


As redes sociais, como Facebook, Twitter (agora X) e Instagram, são exemplos claros da concretização da interconexão e da inteligência coletiva. Estas plataformas possibilitam a partilha instantânea de ideias e conhecimentos, mas também revelam desafios não previstos, como a polarização e a propagação de desinformação, questões que complicam a utopia de uma inteligência coletiva plenamente positiva.


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Aprendizagem Online e o e-Learning
O e-Learning reflete uma aplicação prática da virtualização e da interconexão na educação. Ferramentas como Moodle, Khan Academy ou Coursera permitem a milhões de pessoas aceder ao conhecimento de forma flexível e democrática. Esta transformação foi especialmente visível durante a pandemia de COVID-19, que acelerou a adoção de modelos híbridos e digitais de ensino.




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Autenticidade e Transparência na Rede

 

Autenticidade e Transparência na Rede

A Autenticidade no Mundo Pós-Digital: Reflexões a Partir de Salvador Dalí

A citação do pintor Salvador Dalí, "Se algum dia eu vier a morrer, o que é improvável, espero que as pessoas nos cafés digam que Dalí morreu, embora não totalmente", é, sem dúvida, uma das mais intrigantes da história da arte. Esta afirmação, carregada de ironia e antecipando de forma fascinante as questões contemporâneas sobre a identidade e a existência no mundo digital, ganha nova vida numa instalação interativa no Museu Dalí em Saint Petersburg, na Flórida. Através da tecnologia deep fake, a imagem digital de Dalí renasce, interagindo com os visitantes, conversando com eles e até tirando fotos. Mas, à medida que os visitantes se envolvem com esta versão digital do mestre, surgem questionamentos profundos: quem é realmente Dalí? A versão digital é mais autêntica do que a sua representação física? O que significa a autenticidade no mundo pós-digital?



A Confusão de Valores no Mundo Pós-Digital

Neste mundo digital, onde as fronteiras entre o real e o virtual se tornam cada vez mais nebulosas, somos convidados a refletir sobre a verdadeira natureza da autenticidade. A experiência de interagir com uma versão digital de Dalí coloca-nos frente a frente com uma série de questões: quem somos realmente na rede? O que nos define como indivíduos e como representações digitais de nós mesmos? E, talvez o mais importante, as imagens e informações que partilhamos na internet são genuínas? Ou serão apenas construções digitais que distorcem a nossa verdadeira essência?
As interações sociais na rede não são mais feitas de encontros físicos e confrontos diretos; elas acontecem numa esfera digital onde as identidades podem ser cuidadosamente manipuladas, ajustadas e até mesmo reescritas. Nesse cenário, a verdadeira autenticidade parece estar em constante fuga. O que vemos online é uma versão cuidadosamente curada, onde o que aparece pode não ser mais do que um reflexo distorcido da realidade. Afinal, quem é Dalí, se não a sua imagem, o seu legado, as suas ideias que são transmitidas e reinterpretadas em diferentes plataformas digitais?

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A Questão da Transparência e da Autenticidade da Informação

Se as identidades digitais estão, muitas vezes, longe de serem transparentes, o que dizer da informação que circula na rede? Num mundo onde a desinformação e as fake New se espalham com facilidade, como podemos garantir a autenticidade da informação que consumimos? Será a transparência dos processos de partilha suficiente para validar o conteúdo? Quem valida a veracidade da informação num ambiente tão fluido e dinâmico como o digital?

Tal como as versões digitais de figuras públicas, a informação na internet é moldada por quem a produz e partilha. E, na maioria das vezes, a veracidade dessas informações depende de quem as valida. A confiança na comunidade digital, ou em plataformas centralizadas, torna-se um fator crucial. No entanto, em um ambiente onde todos têm acesso às mesmas ferramentas de criação e manipulação, como podemos saber em quem confiar? Como assegurar que a informação que circula seja não apenas verdadeira, mas também usada de forma ética e responsável?

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O Desafio da Autenticidade no Mundo Digital

O conceito de autenticidade nunca foi tão desafiante quanto no mundo pós-digital. As imagens, as mensagens e até as interações podem ser fabricadas, manipuladas e distorcidas, fazendo com que a linha entre o que é real e o que é digital se torne cada vez mais fina. A versão digital de Dalí, por exemplo, oferece uma representação da sua personalidade, mas será ela mais autêntica do que a imagem que temos dele através da sua arte, das suas entrevistas e das suas ações no mundo físico? A autenticidade no mundo digital não se baseia apenas em provas tangíveis da existência de algo, mas na confiança que depositamos naquilo que vemos e ouvimos.

A pergunta fundamental que se impõe é: qual é, então, a verdade? Se as identidades e as informações podem ser manipuladas à vontade, como podemos garantir que aquilo que vemos na rede seja um reflexo fiel da realidade? Ou será que, em um mundo onde as versões digitais de nós mesmos e da realidade se sobrepõem, devemos repensar a própria ideia de autenticidade?

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Conclusão

A reflexão sobre a autenticidade no mundo pós-digital vai muito além das figuras icónicas, como Salvador Dalí, ou da simples questão de tentar descobrir quem está realmente por trás de uma imagem digital. Ela desafia-nos a repensar as nossas próprias identidades na rede, a avaliar de forma crítica a confiança que depositamos nas informações que recebemos, e a questionar a natureza das relações e interações que estabelecemos no mundo digital. Este contexto, onde praticamente tudo pode ser manipulado, nos leva a refletir sobre o que significa, de facto, ser autêntico.

Num ambiente em que as imagens e as narrativas podem ser facilmente alteradas, a autenticidade deixa de ser algo óbvio ou inquestionável. A nossa presença digital muitas vezes não corresponde à realidade completa de quem somos; ela é construída, filtrada e apresentada de forma a adequar-se a determinadas normas sociais ou expectativas. No entanto, a verdadeira autenticidade pode não estar tanto no que é exibido ou naquilo que é manipulado, mas na nossa capacidade de discernir a verdade, de compreender o que está por detrás da máscara digital e de procurar sempre, de maneira consciente, uma conexão genuína.

Essa conexão, cada vez mais importante, não precisa ser física. Ela pode ser digital, mas precisa ser pautada pela transparência, pela honestidade e pelo esforço de manter uma comunicação autêntica, mesmo em um espaço virtual onde as identidades podem ser facilmente distorcidas. Assim, a autenticidade no mundo pós-digital parece depender da nossa capacidade de manter a nossa humanidade, mesmo quando interagimos com representações digitais ou com realidades construídas por algoritmos.

Portanto, em um cenário em que tudo parece manipulado, a verdadeira autenticidade pode estar na nossa capacidade de buscar e manter conexões reais, mesmo que estas ocorram no mundo digital. Cabe a nós ser os guardiões da verdade, da transparência e da honestidade, tanto nas nossas interações virtuais quanto nas físicas, procurando sempre perceber além da superfície e promover uma relação mais profunda e genuína com o outro.


REFERÊNCIAS 

Baudrillard, J. (2001). Simulacros e Simulação (2ª ed.). Lisboa: Relógio d’Água.
Virilio, P. (1993). The Aesthetics of Disappearance. Los Angeles: Semiotext(e).
Revista FT. (n.d.). Impacto das redes sociais digitais na construção da identidade individual. Disponível em: https://revistaft.com.br.
Museu Dalí (2020). Dalí Lives: A groundbreaking AI experience. Saint Petersburg, Florida. Disponível em: https://thedali.org